- Reparem como tantos jornalistas das várias áreas de informação adquiriram o péssimo hábito de não agradecerem ao entrevistado antes de passarem a emissão para o estúdio. Era o mínimo de uma boa educação e de algum respeito.
- A homenagem a Nelson Mandela que o escritor José Eduardo Agualusa faz no primeiro parágrafo do seu último romance
- Duelo à vista entre Vasco Pulido Valente e Miguel Sousa Tavares
- A exposição da colecção Velásquez no Prado em Madrid até Janeiro de 2008
Esta noite sonhei com Nelson Mandela, o único santo vivo.
Eric Bibb - Mandela is Free Hugh Mazekela - Bring him back home José Afonso - Eu, o povo Bidinte - Ke Cu Minino Na Tcho Ben Harper - Picture of Jesus Dolly Parton - Peace Train Cristina Branco - Carta a Miguel Djéjé Paul Simon - Gumboots Toots & The Maytals - Give Peace A Chance Waldemar Bastos - Sofrimento Refugee Voices - Freedom Soldier Mzwakhe Mbuli - No Easy Road ...
Precisa-se de matéria-prima para construir um País
Eduardo Prado Coelho - in Público
A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país.
Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais.
Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos ... e para eles mesmos.
Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se defrauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito. Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos. Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros. Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica. Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame. Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não dar-lhe o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão. Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado.
Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas.
Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier. Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa. E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados....igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda... Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez. Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
Assinalando a estreia comercial, nos EUA, de I'm not there, o novo filme de Todd Haynes, inspirado na vida e obra de Bob Dylan (o mais curioso personagem, de entre todos os fora-da-lei), aí está a playlist desta semana. Tal como no filme, onde seis actores fazem de Dylan, as sonoridades propostas são várias, fazendo justiça ao mote que o cantor roubou a Rimbaud: je est un autre.
Tim O'brien - Subterranean homesick blues Bob Dylan - Love Minus Zero No Limit (ao vivo) Jorge Palma - Jeremias, O Fora da Lei Eric Bibb - The cape Eliza Gilkyson - Love minus zero Guy Davis - Sweetheart like you To Zé Brito - Quem és tu Zé Gato Rui Veloso - Lançado Ray LaMontagne - Narrow Escape Xutos - Cowboy cantor Bob Dylan - Shelter from the Storm (ao vivo) Cateano Veloso - Jokerman (ao vivo) ...
A inglesa Kate Walsh alcançou recentemente o primeiro lugar do top de downloads do ITunes, com um disco caseiro gravado inteiramente em casa do amigo e produtor, Tim Bidwell. Tim’s House é um disco acústico, franco e despretensioso. Um daqueles discos que nos atinge pela sua fragilidade e enorme simplicidade. Agora que o frio se aproxima (será?), e os dias começam a ficar curtos nas mangas, é mesmo o que apetece.
... Esta primeira playlist (ainda experimental) faz-se de lusofonia. Parte de Campinas, passa pela Paris do exílio, vai a África, volta ao Brasil uma e outra vez, acorda em Lisboa com o Palma, passa pela Galiza, por Alfama e pela poesia de António José Forte e Brel.
Ceguinhas de Campina Grande - Laurinda José Afonso - A formiga no carreiro Paulo Flores - Zé Inácio Maria Rita - Caminho das Águas Jorge Palma - Passos em Volta Los Hermanos - Do Sétimo Andar Vicente Palma - Para Rosália Vitorino - Poema Carla Pires - Fado das Sardinheiras Mercedes Peon - O Mar Cristina Branco - Molinera Jacques Brel - Ces gens-là ...